CADÊ OS YANOMAMI?
Publicado em 05 de maio de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Lelê Teles
Em Roraima, na região de Waikás, uma grupo de 24 indígenas desapareceu na floresta, deixando pra trás a comunidade em chamas.
Pra onde foram, por quê foram; sumiram ou foram sumidos?
Tudo aconteceu no último dia 25, logo após a comunidade ser invadida e atacada por garimpeiros.
Os sujeitos violentaram brutalmente uma menina de 12 anos, levando a pequena à morte.
Em seguida, os violadores sequestraram uma mulher, com o seu filho de três anos de idade; a criança, veja que brutalidade, foi jogada no rio, segundo relato de Júnior Hekurari Yanomami, liderança indígena que publicou um vídeo nas redes sociais denunciando o crime.
Pode ser que a comunidade tenha fugido em desespero para não ser exterminada.
São muitos, e cada vez maiores, os relatos de ataques brutais contra indígenas.
O terror, o pavor, o pânico e o medo são armas psicológicas utilizadas pelo macho branco desde que este câncer da terra aportou por estas paragens.
Há mais de 500 anos temos visto essa cena se repetir, ininterruptamente, e se alastrar como uma metástase: de forma brutal e covarde, homens fortemente armados, com armas de fogo, matam os povos originários sem piedade, ou obrigam indígenas a se esconderem nas regiões mais profundas da floresta para não serem assassinados.
Os exploradores gananciosos não têm escrúpulos: mandam e desmandam, matam e desmatam.
As terras, e isso parece um imperativo, deve estar apenas nas mãos do macho branco.
Por isso, os quilombos estão sempre sob vigilância, por isso os quilombolas lutam, por séculos, para terem a posse de um pequeno pedaço de chão.
É por isso que morrem tantas lideranças comunitárias, por esse motivo matam os que defendem a floresta, é por essa razão que as mulheres quebradeiras de coco babaçu vivem sob a ameaça constante de fazendeiros e grileiros.
É por essas e outras que os brancos gananciosos odeiam tanto os indígenas: “eles têm terras demais e são preguiçosos”, dizem os preguiçosos que parasitam crianças, animais e máquinas para trabalharem pra eles.
Mesmo as terras demarcadas estão sob a mira dos assassinos.
E agora eles têm um governo que os apoia, têm parlamentares que incentivam a brutalidade, têm instituições que fazem vista grossa às agressões que os povos da floresta, e a própria floresta, vêm sofrendo cotidianamente.
O macho branco, quando invade uma terra, antes de colocar uma cerca, ele destrói tudo o que encontra: toca fogo nas matas, polui os rios, mata tudo o que nada, voa, rasteja, fornece sombra e garante a vida.
A morte do “outro”, o assassínio, é a cachaça do macho branco.
Em seguida eles vão a uma igreja, fazem um teatro místico, depositam umas moedas na sacola de espórtulas e dormem com os bolsos cheios e a consciência tranquila.
Estupraram uma menina de 12 anos, jogaram uma criança de 3 anos dentro de um rio…
Dói, cara, isso dói pra caralho!
Isso fode a alma de quem tem alma; dilacera o coração de quem tem coração!
Lembro-me da pequena Madeleine Mccann, uma criança de 4 anos, branca e britânica, que desapareceu em Portugal no ano de 2007.
O mundo ficou em pânico: será que estupraram a pequena, será que está viva, será que passa frio e fome, será…
O planeta terra se mobilizou para procurar a criança, os principais meios de comunicação do mundo, fizeram desta a sua notícia principal.
IlzeSscamparini, do alto de um telhado, chorava a perda da infante.
É triste o que aconteceu com Madeleine, mas por que diabos é menos triste o que aconteceu com os Yanomami, por que diabos a comoção é menor?
Cadê os Yanomami?
Desapareceram ou foram desaparecidos; por quê?
É preciso gritar com todas as forças e gritar sempre: vidas indígenas importam, porra!
Palavra da salvação.
Lelê Teles é jornalista, publicitário e roteirista.