Da Páscoa ao Forró

Com o fim dos festejos da Páscoa, período no qual o governo de Sergipe esteve muito à vontade para investir na decantada confusão entre Cultura e proselitismo religioso, antevejo investimento semelhante na invenção de uma nação com os pés metidos em alpercatas. A lorota é simpática. Nem assim, contudo, tem o condão de escamotear a verdade desta página.

Digo e repito: Evento raro, este de esbarrar em um trio pé de serra sob a sombra dos cartões postais de Aracaju. Mas Sergipe é o País do forró – a canção de Rogério e o governador Fabio Mitidieri me garantem.

Eu reclamo a presença de forrozeiros nas esquinas há anos. Por via de regra, no entanto, a turma do arrasta pé só dá o ar da graça durante os festejos juninos, nos palcos mais acanhados. E olhe lá!

Sufocada pela lógica dos grandes eventos, a festa mais querida pelos sergipanos existe somente na memória dos mais velhos. Quando o Forró Caju transformou o São João em espetáculo – obra e graça do prefeito Jackson Barreto, há mais de 30 anos -, sanfona, triângulo e zabumba passaram a ser tratados com a condescendência devida às peças de museu. E, no entanto, uma vez reunidos, compõem o maior Power Trio do mundo!

Conto os dias para dar de cara com um trio pé de serra no meio da rua, sem mais nem menos, sem aviso, com a naturalidade de quem troca uma nota de R$ 2 por uma lata de amendoim cozido nos botecos do mercado. Até lá, a canção de Rogério, a promessa do governador, serão para mim lorota de gente graúda – ou o arremate feliz de um verso bonito.