E QUEM UM DIA IRÁ DIZER
Publicado em 05 de fevereiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
Lançado em 2020 e somente agora à disposiçãodo público e dos fãsem todo o país, um dos mais lindos filmes brasileiros dos últimos tempos. “Eduardo e Mônica”, de René Sampaio, sem sombra de dúvidas, colabora para eternizar a memória de uma das maiores bandas de rock do Brasil: “Legião Urbana”. Não lembro de ter rido e me emocionado ao mesmo tempo, tantas vezes, numa sala de cinema.
Se a música em si já é um elemento que colabora fundamentalmente para marcar o tempo e definir costumes e sentimentos, imagine ela associada ou como mote inspirador da cultura cinematográfica? Esse casamento entre o som e a imagem, a narrativa, a trama e tudo que envolve essa relação promissora atravessa praticamente toda a produção artística brasileira. E no caso da banda Legião Urbana, “Eduardo e Mônica” é a quarta experiência bem-sucedida e de grande aceitação nacional, dos últimos dez anos.
Tudo começou com o filme “O Homem do Futuro” (2011), protagonizado por nada mais, nada menos que Wagner Moura (João Zero) e Aline Moraes (Helena). Uma rara ficção científica brasileira, embalada pela música “Tempo Perdido”, de 1986, do álbum “Dois”, letra de Renato Russo. A canção deu a tônica do filme e alcançou grande sucesso de bilheteria.
O mês de maio de 2013, nessa relação música e filme em relação à memória do grupo Legião Urbana, foi simplesmente esplêndido. No dia 3, foi lançado “Somos tão jovens”, de Antônio Carlos da Fontura, que narra a fase embrionária da banda, entre 1973 e 1983, à época do “Aborto Elétrico” que culminará com a química entre Renato Russo, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos (os três que seguiram), além de EduardoParaná (Kadu Lambach) e Paulo Guimarães (o ‘Paulista’). Ainda com relação a “Somos tão jovens”, destaque para a interpretação do ator Thiago Mendonça no papel de Renato Russo. Se eu acreditasse em reencarnação…
No dia 31 de maio daquele ano, foi a fez de “Faroeste Caboclo”, inspirado na letra de um dos maiores sucessos do grupo, a icônica canção de mesmo nome, de Renato Russo, do álbum “Que país é este” (1987). Eu, fã da Legião Urbana desde o início de minha adolescência, sempre imaginei um dia que essa música poderia render um bom roteiro cinematográfico. Graças a René Sampaio, mesmo diretor de “Eduardo e Mônica”, isto foi possível.
“Faroeste Caboclo” traz Fabrício Boliveira (João de Santo Cristo) e Ísis Valverde (Maria Lúcia) nos papéis dos protagonistas da trágica história de amor entre um homem negro do Nordeste, soteropolitano, que irá se envolver com crime na periferia de Brasília, e uma mulher branca de classe média alta, de família de militares. Sem falar na interpretação de Felipe Abib no papel do traficante Jeremias, que irá levar para as telas do cinema a peleja mortal com seu inimigo João de Santo Cristo, num típico faroeste caboclo mesmo. Simplesmente, geniais: música, letra e filme!
Em “Eduardo e Mônica”, René Sampaio repete a mesma pegada de “Faroeste Caboclo” e leva o público ao delírio com mais uma grande e inusitada história de amor, desta feita com final feliz: “e quem um dia irá dizer?”. Sim, pois trata-se do relacionamento amoroso entre um jovem estudante de 17 anos, Eduardo (Gabriel Leone) e uma artista plástica e médica de quase o dobro de sua idade, Mônica (Alice Braga).
Além de ser fiel à letra homônima, também composta por Renato Russo, a forma como a história musicada foi levada para o cinema é algo digno de aplauso e até mesmo de Oscar, sem exageros. A afinidade entre Alice Braga e Gabriel Leone é algo de encher os olhos. Aliás, a sobrinha de Sônia Braga, eu e minha esposa concordamos, já superou a tia de longe. E olhe que a Braga, tia, é algo fora do comum desde os tempos de “Gabriela Cravo e Canela” (1975). Até mesmo Renato Russo dá um jeito de aparecer em “Eduardo e Mônica”, mas esse spoiler eu não ouso dá. Veja o filme e tire você mesmo as suas próprias conclusões.