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FOME E DESIGUALDADE NO BRASIL (II)


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Publicado em 17 de junho de 2023
Por Jornal Do Dia Se


Manoel Moacir Costa Macêdo & Pedro Abel Vieira

Está pacificado que fome, pobreza e desigualdade, não são pecados e nem castigos dos deuses. Elas são obras humanas, no tempo e espaço determinados. A história registra essas mazelas no curso da humanidade.
A fome não é apenas uma agressão social e moral, mas um atentado à vida, ela atinge o corpo e o espírito. Ela caustica a saúde e o desenvolvimento psicossocial, com consequências irreversíveis no desenvolvimento humano. No dizer da dialética, se vincula à trajetória da produção ao consumo. No caso da produção agrícola, inicia no acesso e uso da terra e a seguir na incapacidade dos vulneráveis em comprar comida.
Nessa complexa equação, merece destaque o desperdício, vis-à-vis a fome. Cerca de um terço dos alimentos produzidos, prontos e acabados no interior da propriedade rural, são desperdiçados da porteira dos estabelecimentos agrícolas à mesa dos consumidores. Deficiências estão identificadas na distribuição e comercialização, a exemplo do armazenamento, transporte, processamento e embalagem dos produtos agrícolas. Cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são perdidos ou desperdiçados a cada ano no Brasil. É possível e admissível resolver essas contradições, com políticas estruturais e duradouras.
Oferta de alimentos existe e em abundância. A safra prevista para o corrente ano ultrapassa trezentos milhões de toneladas de grãos. A carência é de renda dos pobres em adquirir comida, em acordo com as dietas recomendas pelas organizações de saúde e nutrição. A agricultura tem cumprido a sua missão e derrotou a tragédia prevista pela Teoria de Malthus.
No entanto, a despeito de sua variabilidade, algumas práticas agrícolas causam problemas ambientais, doenças e perdas. Por exemplo, a agricultura intensiva em capital, criou um círculo vicioso, que afeta tanto a segurança alimentar quanto a sustentabilidade ambiental, uma vez que a expansão da produção agrícola exigiu o desmatamento e contribuiu para as mudanças climáticas, e em consequência o aquecimento global, inundações, secas e tempestades, o que resultou em insegurança alimentar e fome.
A necessária e urgente autossuficiência alimentar é um desafio para o desenvolvimento e estabilidade social das atuais e próximas gerações, visto que os recursos naturais são limitados e parte da produção agrícola é alocada para fins não-alimentares, como biocombustíveis, fibras, matérias-primas industriais e serviços ecossistêmicos. A expansão da produção e produtividade agrícola, os insumos sintéticos, máquinas e tecnologias biológicas e de informação tornou-se uma realidade. No entanto, eles devem ser usados, na perspectiva de minimizar os impactos na saúde dos produtores, meio ambiente, trabalhadores e consumidores exigentes por produtos saudáveis, éticos e amigáveis à natureza.
Na dimensão quantitativa, o Brasil é um caso de sucesso na produção de alimentos. Ele produz a quantidade de alimentos suficiente para abastecer o mercado doméstico e atender a demanda externa. Segundo informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América – USDA, o Brasil é atualmente o maior exportador de carnes bovina e de frango, soja em grãos, açúcar, suco de laranja e café; além de estar entre os principais exportadores de algodão, milho, frutas, carne suína e produtos do setor florestal.
As inovações tecnológicas elevaram a produtividade da agricultura brasileira, permitindo, que a produção agrícola mais que quadruplicou no período de 1990 a 2021, enquanto a área utilizada para a produção de grãos cresceu 68% no mesmo período. A contradição é evidente. Não obstante o fato do Brasil ser uma grande potência na produção de alimentos, e pode ainda produzir muito mais, em face da disponibilidade de recursos naturais, mas a fome e a desigualdade não recuam, ao contrário crescem.
Produzir sim, mas com tecnologias sustentáveis na unidade entre a produção e consumo, para garantir a segurança alimentar, às atuais e futuras gerações. Importante afirmar: existe fome, onde existe extrema desigualdade.

Manoel Moacir Costa Macêdo e Pedro Abel Vieira são engenheiros agrônomos

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