HISTORISMO CENTRALISTA
Publicado em 16 de dezembro de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Inocêncio Nóbrega
A história, mesma vista como simples catalogação dos fenômenos naturais e humanos, do aspecto territorial restrito ao mais amplo, deve levar em conta a sincronia ao estudo dos fatos pesquisados. Há situações que não podem ser particularizadas, sob pena de comprometimento com invocações separatistas. A França, a partir do século XIV, é vista como epicentro da história mundial, fenômeno que também ocorre nos países, especialmente de dimensões continentais, como o Brasil, o que é um perigo para sua unidade.
Senti essa tendência, com mais clareza, ao ouvir explanação, bastante fundamentada, da jovem historiadora mineira, Heloisa Murgel Starling, no Canal Livre, exibido pela TV Bandeirantes, nas homenagens ao Bicentenário, o que é louvável. O tema abordado: “Independência do Brasil”. Titulada em Comunicação Social, pela PUC de Minas Gerais, concomitante ao curso de História, pela UFMG. Posteriormente, mestrado e doutorado, já em 1986 publicando seu primeiro livro, “Os senhores das gerais: os novos inconfidentes e o golpe de 1964”.
Na entrevista foram lembrados episódios ligados à Conjuração Mineira, além de passagens dizendo respeito à Dona Leopoldina, que geria os negócios da Colônia, enquanto perdurava a viagem de D. Pedro a S. Paulo. A Revolução de 1877 é brevemente comentada, assim como a Revolta dos Búzios, de 1837. Um dos estrevistadores citou, sem qualquer menção adicional, a Resistência de Jenipapo. Embora com uma pauta sacrificada pelo tempo, valeu a pena escutá-la, pois ali estava a escritora, ganhadora do 61º Prêmio Jabuti, detentora, sem dúvida, de vasto conhecimento, nas duas áreas sociais que abraçou.
Todavia, em função do tema tratado, nenhuma referência à intrepidez da Vila de Cachoeira e à morte Joana Angélica/BA; aos mártires de 1817; à marcha do Ceará pela Independência; às Vilas do Piauí, autoproclamadas independentes; Teodoro Sampaio lidera a libertação de Goiás e Cavalcante Arraias escolhido capital; Cypriano Baratha, o patriota inconteste; os panfletistas belenenses lusofobistas, Irmãos Vasconcelos; o maranhense Bequimão, primaz de nossos sonhos autonomistas, são alguns exemplos.
Trazendo-me uma sensação de vazio, uma conversa inacabada, deixou-me convicto de que prevalece no País, entremeado com outras ciências, o historicismo centralista, o qual nos novos conceitos outra parte brasileira corresponde à história periférica, quando a narração deveria ser unificada. A historiografia de cá é rica, podendo trazer depoimentos, os quais, uma vez condensados com a de regiões, autoconsideradas matrizes, formando-se, assim, a verdadeira História do Brasil, contada em livro.
Inocêncio Nóbrega, jornalista.