REVISITANDO SERGIPE OITOCENTISTA
Publicado em 04 de fevereiro de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
Durante boa parte de minha formação acadêmica, concentrei meus esforços de pesquisa histórica entre a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Hoje, há pelos menos dez anos, estou mais para o tempo presente e para a história oral, sobretudo quando tenho me debruçado sobre as memórias do carnaval trieletrizado, sobre a história da Igreja Católica e sobre as trajetórias de vida de pessoas de diversas áreas, da educação à medicina, como foi o caso do ensaio biográfico de Dr. Hugo Gurgel, que publiquei em parceria com Ana Medina no início deste ano.
O fato é que lidar com esse período da história que chamamos de oitocentista (século XIX) não é uma tarefa fácil. Requer do pesquisador um esforço metodológico ainda mais meticuloso e dedicado. Uma das fontes principais, além dos impressos, claro, são os manuscritos, que exigem algo mais além de ler e codificar um tipo de escrita, mas também a compreensão e a tradução de um contexto de produção e uma semântica própria do tempo.
Nesse sentido, quero parabenizar a iniciativa dos meus colegas do Departamento de História (DHI) da Universidade Federal de Sergipe, Prof. Dr. Carlos de Oliveira Malaquias e Profª. Dra. Edna Maria Matos Antonio, pela organização e lançamento do livro “Revisitando Sergipe Oitocentista – Fontes Históricas e Novos Temas de Pesquisa”, pela Editora SEDUC, 2022.
Professores da nova safra de docentes do DHI, Malaquias e Edna têm muito em comum. Destaco, em especial, dois aspectos: 1) são profissionais altamente capacitados e comprometidos com o ensino de história, com a pesquisa histórica e com a extensão; – um parêntese para Edna, a qual tive a oportunidade de trabalhar, quando dos tempos áureos do Curso de Licenciatura em História da Faculdade José Augusto Vieira (Lagarto-SE), entre os anos 2004 e 2008; 2) não são nascidos em Sergipe (ele, em Curvelo, Minas, ela, em São Paulo), mas que abraçaram o fazer historiográfico a história e cultura sergipanas com afinco e com dedicação. Edna, inclusive, é autora da tese (versão também em livro) intitulada “A independência do solo que habitamos? Poder, autonomia e culturas políticas na construção do Império Brasileiro. Sergipe (1750-1831)”, defendida na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (SP), em 2011.
Carlos Malaquias se especializou em história do trabalho escravista no Brasil, entre os séculos XVIII e XIX, e, por quatro anos esteve à frente da Chefia e Coordenação do Departamento de História da UFS. Tem desenvolvido inúmeras ações, que têm colaborado para dinamizar nosso quinhão de conhecimento histórico, orientando promissoras e qualificadas pesquisas, tanto ao nível de graduação, quanto ao nível de mestrado.
Pois bem. Em “Revisitando Sergipe Oitocentista”, destaque para seus cinco capítulos: “Poder Provincial e construção da Nação: Presidentes da Província de Sergipe no Primeiro Reinado (Edna Maria); “Relações comerciais entre Estância e Salvador: redes de abastecimento e importância do crédito no século XIX (Fernanda Carolina Pereira dos Santos, Mestre em História pela UFS, 2022, orientada por Malaquias); “Mulher de posses, senhoras de si: poder, autoridade e condição feminina na sociedade agrária-escravista de Sergipe, no século XIX” (Nathiely Feitosa Farias, Licenciada em História pela UFS, pesquisadora COPES sob a supervisão de Carlos Malaquias); “Doenças no Sergipe Oitocentista: pesquisa e ensino de história” (Bárbara Barbosa dos Santos, Graduada e Mestra em História pela UFS, sob a orientação de Carlos Malaquias, e Doutoranda em História pelo Programa de História das Ciências e Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz-RJ); e “A influência da Igreja Católica nas última vontades dos sancristovenses no século XIX” (Márcia Oliveira Gama, Licenciada em História pela UNIT e Mestra em História pela UFS, 2019, também, sob a orientação de Carlos Malaquias).
Além de se apresentar como uma importante referência para os estudos e para a compreensão da história oitocentista de Sergipe, a obra referenda, mais uma vez, a importância não somente do Curso de Licenciatura em História nos últimos anos, mas também de seu Mestrado, hoje sob a coordenação do Prof. Dr. Augusto da Silva, principalmente no que diz respeito à formação de uma nova e robusta historiografia sergipana, que ainda tem muito caldo para dar, pelo menos, pelos próximos cinquenta anos.