Um balanço de 2024 e a defesa da frente ampla para o Brasil não retroceder
Publicado em 05 de novembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
* Thiago Modenesi
Acabou o segundo turno das eleições municipais e há análises para todos os gostos. O resultado mostra indubitavelmente um crescimento das forças alinhadas ao chamado “centrão” (PSD, União Brasil, MDB, Republicanos e PP) e resultados modestos para o PT, demais partidos de centro-esquerda e, em certa medida, para o PL de Bolsonaro. Digo PL de Bolsonaro porque não foram poucos os eleitos que migraram para a legenda em função do gordo fundo partidário e esconderam o “mito” durante toda a eleição, a exemplo de Emília Corrêa em Aracaju e JHC em Maceió, só para citar os de capitais.
Lula participou pouco presencialmente da eleição, o PT nunca colheu resultados lá muito expressivos na quantidade de cidades que elege prefeitos, tendo reduzido expressivamente após a Lava-jato e nunca conseguido voltar aos patamares anteriores a operação, além de ter recuado em espaços nos grandes centros urbanos também. No seu ápice em 2012 elegeu 625 e agora em 2024 voltou ao patamar de 2016, com 252 eleitos.
O que cabe registro, e poucos parecem perceber, é que o retrato da eleição municipal de 2024 é uma relativa continuação da correlação de forças reproduzida na eleição dos governadores em 2022. Lula ganhou a presidência da República na última eleição, e elegeu 4 governadores, sendo o PT junto com o União Brasil as legendas que mais elegeram, porém o partido não arrematou os estados da federação com maiores números de municípios, indicadores econômicos e maiores populações, mesmo tendo eleito os governadores de estados-chave como Bahia e Ceará.
Inclusive nos 4 estados do nordeste governados pelo PT essa lógica se repetiu do resultado puxado pelos governadores se repetiu. Boa parte dos que se elegeram em 2024 são ligados aos governadores que conquistaram posições na eleição de 2022, com um agravante: quando se juntou candidatos à reeleição no cargo de prefeito e o apoio do governador se gerou candidatos praticamente imbatíveis, que até largaram atrás nas pesquisas, mas foram anabolizados no decorrer do pleito das mais variadas formas. Mais de 80% dos prefeitos de mandato concorrendo a reeleição foram reconduzidos aos cargos.
No Nordeste o PT elegeu 168 municípios agora em 2024, esse resultado foi puxado pelos 4 governadores da legenda, representando um crescimento em relação a 2020 na mesma região, com 91 eleitos naquela eleição, e concentrando nesta área mais que a metade dos eleitos pelo PT em toda a nação. Um importante feito, mas que acaba apequenado frente aos mais de 5 mil municípios do Brasil.
A pauta da eleição foi municipalizada, as pessoas no geral discutiram o problema da sua esquina, fugindo da nacionalização propalada por Bolsonaro no começo do ano, e também dos números superestimados de prefeitos que elegeria anunciados por Waldemar da Costa Neto, presidente do PL
A dispersão de forças e a possibilidade de essas penderem tanto para a direita como para a esquerda daqui 2 anos é real. Os partidos não são homogêneos na maioria dos casos, há PSD alinhadíssimo ao presidente Lula, a exemplo de Eduardo Paes, prefeito reeleito do Rio de Janeiro, e outros no mesmo partido alinhados a Tarcísio, ou mesmo ao Bolsonaro.
Cabe as forças progressistas aglutinarem mais e melhor, a frente ampla, amplíssima se necessário, se impõe como uma necessidade, além de ser a forma mais correta de se construir uma concertação de forças que reflita a pluralidade de correntes, pensamentos, opiniões e interesses diversos que compõem a sociedade brasileira.
As forças que hegemonizam o governo federal precisam operar e concretizar a frente ampla agora, em consonância aos movimentos junto ao Congresso Nacional, construindo maioria, e não às vésperas do pleito que se avizinha. Assim como é fundamental envolver variados setores da sociedade, ganhando igrejas, sindicatos, associações, movimentos estudantis, comunitários e outros para a defesa dos avanços na economia, lutando para que se tornem realizações concretas para a população, não sendo apenas números frios, mas sim políticas que melhorem a qualidade de vida do povo, os tornando defensores destas medidas que gerem uma sociedade com mais emprego, distribuição de renda, defesa do meio ambiente e diminuição das assimetrias regionais que marcam o país.
* Thiago Modenesi, bacharel em Direito, Licenciado em História e Pedagogo, Especialista em Ensino de História, Ciência Política e Moderna Educação, Mestre e Doutor em Educação. É professor no Mestrado em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste da UFPE, membro do INCT Tec Cis 4.0, pesquisador sobre charges, cartuns e histórias em Quadrinhos e editor na Quadriculando Editora, além de presidente do PCdoB em Jaboatão dos Guararapes/PE-